Trago um fado no meu canto / Canto a noite até ser dia / Do meu povo trago pranto / No meu canto a Mouraria
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Foi por vontade de Deus / Que vivo nesta ansiedade, / Que todos os ais são meus, / Que é toda a minha saudade!
Povo que lavas no rio / Que talhas com o teu machado / As tábuas do meu caixão / Povo que lavas no rio
Se uma gaivota viesse / Trazer-me o céu de Lisboa / No desenho que fizesse / Nesse céu onde o olhar
Triste e só anda meu coração / Como anda a folha perdida no vento / Procuro caminho nesta escuridão / Procuro a luz no pensamento
Eu fui à Feira de Castro / P’ra comprar um par de meias / Vim de lá com umas chanatas / E dois brincos nas orelhas
Não sei, não sabe ninguém / Por que canto o fado / Neste tom magoado / De dor e de pranto
É varina, usa chinela, / Tem movimentos de gata / Na canastra, a caravela, / No coração, a fragata
Olhaste pra mim / E deste-me a mão / E sem dizeres nada / Fiquei sem palavras
De rosa ao peito na roda / Eu bailei com quem calhou / Tantas voltas, dei bailando / Que a rosa, se desfolhou